**Ocupação ESPAÇO NA MARGEM – Centro Cultural Capiberibe 27 / Almany Pano**
_Abertura dia 16 de Agosto de 2025_
Como a arte pode transformar nosso viver quando o mundo parece estar no limite de sua capacidade de sustentar a vida? Além da atual crise climática, polarização política e desigualdades sociais históricas ameaçam nosso presente e afetam nosso futuro, a paisagem urbana, principalmente a periférica, é convertida em um campo de sobrevivência que romantiza a superação através do empreendedorismo compulsório e seus ciclos de servidão e consumo. Diante desse nefasto cenário imposto pelo capitalismo, são necessários espaços inventivos para ultrapassar toda e qualquer barreira social, econômica e existencial.
“Espaço na Margem” é uma ocupação artística gestada entre inquietações pessoais e urgências coletivas em um momento de exponencial aceleração tecnológica somada ao esgotamento voraz dos recursos naturais. Nesse cenário, lógicas de desejo e descarte alimentam hábitos de repetição, sobreposição e acúmulo que, além de provocarem sofrimentos psíquicos, implantam ideais de reconstruções sem fim, afetando nossa forma de viver, consumir e nos relacionar.
A pesquisa artística de Almany, materializada entre frestas, foi concebida a partir de vivências no comércio informal e na ocupação de espaços públicos (ruas, praças, quadras e passarelas) de Nova Iguaçu, Mesquita e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, além de outros territórios populares da cidade do Rio de Janeiro, como a Maré e o Santo Cristo. Ao atuar nesses espaços, o artista evidencia e enfrenta a falta de acesso a equipamentos culturais e a condições dignas para a criação e fruição artística, levando arte e reflexão diretamente ao povo que historicamente é afastado desses circuitos.
Por meio da reconfiguração de materiais plásticos e da criação de estruturas leves e efêmeras, as obras apresentam miríades de cores e formas que se amalgamam sob pressão, torção, relação e amarração. Ao remodelar esses materiais, o artista estabelece diálogos entre natureza e artificialidade para elaborar sobre meios criativos de lidar com os excessos da produção de objetos produzidos em série.
Fruto de pesquisas e discussões em grupo realizadas durante residências artísticas e intercâmbio cultural, o projeto da ocupação foi idealizado pelo artista visual Almany Pano e viabilizado pelo Centro Cultural Capiberibe 27. Essa parceria entre instituição e artista propõe diálogos sobre modos inventivos de sobreviver, criar e festejar, convidando a comunidade a vivenciar instantes poéticos no dia a dia.
Em breve, a ocupação irá compartilhar seu espaço com a coletividade, abarcando mais pesquisas e criações. Partindo de um gesto individual que se expande, a ação se fortalece com quem chega junto para somar, dividindo oportunidades e visibilidade com outros artistas e transformando o espaço expositivo em um território original de partilha, onde a energia criativa periférica conquista centralidade através de atitudes criativas autônomas e coletivas, transformando desafios em possibilidades e revelando a capacidade infinita de imaginar e construir a partir das margens desse grande rio.
Almany Pano – Artista Visual
Igor Valamiel – Historiador e Professor